Querido Pai
Natal,
Sei que já
faz seis anos desde que te escrevi pela última vez. Presumo que à falta de me teres respondido,
assim como das prendinhas nos últimos anos,
tenhas ficado aborrecido, se não mesmo magoado e sentido, com o teor da
minha última carta:
http://mustekamos.blogspot.pt/2006/12/carta-p-pai-natal.html .
Por essa
razão, entre outras, escrevo-te também para te dizer que compreendo, apesar de
não concordar. E não concordo, entre
outros motivos porque considero profundamente imbecil da tua parte, que tenhas
levado tão a peito o que te escreveu um fedelho, na altura de 17 anos e
imberbe, mas que apesar de tudo, e podes
até não acreditar, mas que foi escrito com grande carinho. Continuo apesar de tudo a acreditar que és
uma figura carismáitca, afável e
simpática, apesar de achar que também já tens idade para ter juízo, e até para
te vestires como as pessoas, apesar do maior respeito que tenho pelas origens
do teu fato. Também por isso achei que
deveria voltar a escrever-te, levantando um pouco o véu daquilo que actualmente
penso e sinto em relação a esta tua quadra, e que interpretes e aceites esta
minha partilha como um presente meu (sei que não é grande coisa, mas como estou
falido de qualquer maneira dá-te por feliz de não te pedir nada).
Antes de
mais devo dizer-te que me tenho portado muito bem, tenho sido um bom menino,
bem comportado e com atitude de escuteiro.
Continuo a ajudar as velhinhas a atravessar a rua. Imagina tu que ainda
a semana passada, uma senhora muito velhinha, mirradinha e curvada, as pregas
das rugas chegavam quase ao joelho, peguei mesmo na senhora ao colo. Devia ser imigrante pois não percebia nada do que
ela dizia. Atravessei a rua com ela, enquanto que ela agradecia, deliciada, no
seu indioma nativo que fui incapaz de reconhecer “ Nãépáíí, Nãépáíí, Nãépáíí.” Fiquei mesmo comovido com
a ternura com que me agradecia, em lágrimas enquanto me dava pancadinhas
carinhosas na cara (não pesnategei não a fosse estar a insultar).
Não voltei a
atirar pedras às meninas, mesmo quando elas se revelam da pior rês possível,
optando por uma solução de compromisso que é habitualmente conhecida por
pica-miolos, algum humor cáustico e sarcasmo q.b. e em último recurso uma
honestidade para lá do socialmente aceitável (e costumam dizer que quem diz
verdade não merece castigo por isso...) .
Fui um gajo
esforçado no que diz respeito aos estudos, tendo dado o meu melhor, pelo menos
até ter sido forçado a interromper a faculdade (amaldiçoada crise! Mas já falo
contigo!).
Procurei
cumprir o melhor possível dentro da minhas capacidades todas as tarefas que me
foram sendo confiadas nas diversas responsabilidades que tinha vindo a
desempenhar: algumas bem sucedidas, outras nem tanto, mas o que é certo é que
já pus a jeito o bronzeador, porque as intenções eram muitas e das melhores,
por isso o Inferno vai fazer um bom negócio comigo! ( a propósito depois na
volta do correio manda-me me anexo a tabela sobre as progressões na carreira
underground sff).
Enfim,
continuo a esforçar-me por ser um bom companheiro e amigo, por entre todas as peripécias naturais da
idade.
Acho por
isso que tenho tido, de facto, um comportamento exemplar.
Aliás, dada
a sorte me destinaste nos últimos tempos, só o facto de ainda não ter começado
a morder a carpete, considero que o meu comportamento tem sido mesmo excelente!
Como acho
que conquistei esse direito, resolvi por isso deixar de lado as nossas antigas
divergências. Escrevo-te agora para salientar as minhas NOVAS DIVERGÊNCIAS!
MAS QUE RAIO
DE CACHIMBO DE DROGA ANDAS TU A FUMAR PAH?!?! Só podes andar a gozar com esta
merda.. só pode!!!
Que não
ajudes um gajo, e o entregues à sorte ainda é aquela...
Agora
ajudares a cavar o buraco de um gajo enquanto que continuas a permitir que uma
cambada de gulosos, gananciosos, invejosos e desdenhosos, e ainda por cima
feios, continuem a encher a mula à conta dos mesmos? Premiar a institucionalização
mediocridade!? Alinhar diariamente numa
exploração pornográfica da desgraça alheia?!
Só podes estar a gozar com esta merda!! Cavas o buraco, empurras um
gajo, mas depois ainda roubas a terra!!!
Anda aqui um
gajo anos a fio a esforçar-se, a pregar aos peixinhos e a paga é sempre um
chuto no cú e até à próxima?
Então o
pessoal anda já todo chupadinho e tu cada vez mais gordo, e apareces em tudo o
que é anúncio de barbas limpinhas, fato engomado cheio de presentes caros (está
visto que não pagas impostos! ainda tens de me explicar essa!) , a assediar o
pessoal que literalmente se vai ver grego para pôr o comer na mesa! Não tens
vergonha??!
Enquanto
isso continua a mesma dança de todos os anos, tudo a massacrar-se o ano inteiro, cheio de ódios,
invejas, numa espiral de sabotagem sem fim, num salve-se quem puder nojento,
desejos feios e pensamentos obscenos, chega
a esta altura do ano e mais uma vez fica tudo dócil como cordeirinhos, com
sorriso de osga e dentinhos de vampiro! ‘C’ÚS PARIU PAH!!
E tu cego, ainda alimentas isto!! Até diria
que andas a ser papado por otário, mas olhando para o tamanho da pança, já não
sei quem é que anda a papar quem...
E por falar
em comida, se antes o pessoal ficava semanas em jejum à espera de se empaturrar selvaticamente com
a dita “Ceia de Natal”, fazem agora o mesmo jejujm mas não por opção! Lindo! Poético! És um
asqueroso sarcástico, badocha e sádico, mesmo numa de “Andavam a pedi-las!” não
é? Ou seja, agora vai tudo lançado numa
correria gulosa e faminta para a mesa das festas para se consolar, mas em vez
da doçaria doentia ,enjoativa, execissiva e sedentária com formas,
nomenclaturas e confecções
suspeitas, o pessoal consola-se
agora com massa de atum, canja de galinha (com hortelã), rabanadas só à moda do
outro e chá de urtigas! E nem sequer há
perú, nem guita para a vinhaça para lhe pregar o pifo!!! Já para não falar dos
centos de gentes desconhecidas que aparecem todos os anos que se dizem
“família” que enchem o bucho e desaparecem, levando com eles regra geral alguns
bibelots e relógios antigos... Devias
era ter vergonha na cara!!!!
E nem quero
ir pelo caminho que já referi da última
vez mas ao qual não mudo uma vírgula: o sentido desse festejo inútil e ridículo
de uma data em que toda a gente presta um culto iconoclasta (completamente
dentro dos seus princípios, convenhamos )
à tua fronha horrorosa impressa em plástico! A mesma falta de racionalismo
que leva uma cultura a sustentar uma Instituição bancária, autoritária, falsa e
sedentária há dois mil anos; onde ao mesmo tempo festejam (se é que ainda se
lembram) o nascimento de um puto nas palhinhas, esse pobre diabo de boas
intenções, martirizado e pregado num madeiro por vontade e amor de alguém
incrivelmente cínico e cruel; esse diabo
escarrapachado para a eternidade de fraldas
num presépio que envolve uma “virgem” e um desgraçado de um carpinteiro
que ainda hoje afirmo que se tivesse tido possibilidades de estudar, teria
percebido que existia ali marosca.
Sabes o que
é que eu te digo? Musteka-mos!!! Não
prestas mesmo!!! Não mereces o chão que
não pisas, as chaminés em que te arrojas e o ar em que voas, a próxima vez que
me passares à porta furo-te os pneus! E vou contar a toda a gente o que andas a
fazer com o Rodolfo, porque ele já anda a ficar com o nariz em sangue!
E só por
causa disso, agora também mudei de ideias: vais trazer-me este natal uma
caçadeira de canos serrados para te limpar o canastro, munições e umas luvas. E não me faças ir ao Pólo buscar isto, senão
atiço-te o Coelho da Páscoa. Ah, e da
outra vez também não trouxeste a bazooka que eu te pedi para o Zog que ele não
tinha chaminé na altura, aproveita e traz que eu testo-a contigo e depois
entrego-lha!
Respeitosamente
e com Todo o Carinho
Fred Aka
Mustek
Ps: Quando
chegares acorda-me, que este ano não tenho perú mas tenho muitas contas e
facturas e preciso mesmo de um sítio onde as enfiar.
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